sábado, 24 de dezembro de 2011

Medo

Medo de perder-te por entre meus dedos, como água que escorre, fugindo à possessão diabólica do meu ego. Medo que o momento seja pouco. Que seja menos do que desejo. Medo que não compreenda a língua estranha que falo sob efeito de algum doce qualquer.
Medo que o mais torne-se menos e que você vá-se embora como água em efeito gasoso.
Medo do tempo obedecer-se deslealmente aos meus comandos.
Medo.
Medo de apodrecer antes que viva
e de não aprender aquele estranho dialeto
escrito em pedras praianas,
que os búzios insistem em nos ensinar.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Caminhemos

Mergulhada em coincidências bizarras, tento inutilmente recapitular os sentidos que norteiam a mim, a tudo e a todos. De nomes a sentimentos intensos, tomo conhecimento de um real sentido sutil e invisível por trás dessa cortina toda de nuvens. Redes que se intrelaçam fazendo parecer-me uma boba vivendo de coincidencias e repeticoes, porém fazendo da vida uma peça de teatro encantadora e deslumbrante.
Cada um que passa por nossa vida, não vem sozinho. E não nos deixa sozinhos. Troca contínua de fluídos, de tempos passados, presentes e futuros. Tudo junto e misturado.
 O tempo presente não é só presente e nem está vagando pelo espaço isento de sentidos. Pelo contrário, Recheado de sentidos e de possibilidades muitas e infinitas, ele interage com o passado e com o futuro a se desenhar no horizonte. Somos todos membros de uma história sem fim chamado existência. Mirando aquele ponto no infinito, vamos caminhando sem nos darmos conta de tamanha beleza ao nosso dispor. Como diria Paulo Leminski, distraídos venceremos. Eu poderia ser mais pessimista e terminar o texto dizendo poéticamente que continuo, fatalmente, mergulhada em uma banheira de letras sem sentido, sem sequer entender metade da missa. Mas pude optar pelo otimismo, acreditando que a estrada nao acabou, que estamos todos juntos, interligados, seja na matéria ou não. Não existe solidão, a não ser aquela como opção. A estrada continua, deve haver algum ponto de chegada, caminhemos RETOS, como irmãos, braços dados ou não. Encerro meu texto me questionando sobre a importância de uma contínua alimentação da alma, seja através de orações, de poesia, arte ou de bons amigos. Alimente-se de arte para não morrer de vazio. Não aceite o pouco ou o médio. Tenha metas grandes e se afaste de tudo o que atrapalha a vida. Era simples e eu não via.
Caminhe e caminhemos.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Se oriente, rapaz

De vez em quando, penso eu com os meus botões sobre as origens de certas palavras e expressões.
Ontem enquanto eu andava com alguns amigos pela Lapa, compartilhei com eles a minha última teoria: da onde vem a expressão "se orientar" que irei vos explicar.
Durante a época das grandes navegações marítimas, lá pelo século XV, a grande missão, o grande objetivo, era justamente o de atingir o Oriente pelas rotas marítimas. Era lá onde se encontravam as valiosas especiarias que depois seriam comercializadas. Deste modo, a região se tornou um importante  destino e um pólo de grande movimentação.
Imagino, eu, que seja daí a origem da expressão "se orientar".
Orientar-se = buscar o Oriente.

Evolução

Não existe evolução com repressão.
Não existe evolução com diferenciação.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Lápide

Aqui jazz um corpo.

Sobre a verdade

Não há verdade ,nesse mundo, que seja tão incontestável a ponto de não passar por uma verdadeira revisão de valores quando o relógio marca horas tardes. Encostada em meu travesseiro, nem dormindo, nem acordada, tenho por hábito (inconsciente) revisar todas as minhas verdades e conceitos até então alimentados como dogmas. Nessas horas tardes, quando não há luz que atrapalhe a real visão, minha mente trabalha de uma maneira diferente. Despida de qualquer vício ou apegos, ela vasculha ambientes muitas vezes por mim ignorados. Busca assuntos por mim muitas vezes esquecidos.
Numa velocidade rápida, como a da luz das estrelas quando percorre o espaço até atingir nossas retinas, ela, a minha mente, dá verdadeiros saltos filosóficos em busca da verdade cristalina. Lapidando meus conceitos, vou aperfeiçoando meus olhos e olhares ante o mundo e enxergando a realidade sob um novo prisma. Um simples tom azul, sob este meu novo prisma, pode adotar novas colorações. Uma simples nota musical pode também adotar novos sons e ruídos.
Como uma andorinha curiosa, enfio-me em becos novos, novos e fundamentais atalhos. Passeio pela relatividades das coisas fazendo uso de uma racionalidade apurada e entendo que, enfim, verdades cem por cento verdadeiras não existem e que estão sempre em constantes e progressivas contestações mutáveis.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Da complexidade da palavra e outras mentiras mais

Ramificado, Ramiro prometeu o que jamais cumprira a Dona Raimunda sua mãe:
Ser um homem de palavra.
Pois, filosofando entre tintas frescas de concretismo pós-modernos,
contentou-se em ser apenas mais um ramo da rama ramificada.
Palavras não traduzem, palavras reluzem.

E tudo aquilo que não é feito de material concreto,
perde-se por estrófes não-pagas de
amarelos sorrisos envaidecidos:
a cada esquina, uma nova mentira.
a cada esquina, um novo ramo.

Viver é pros raivosos.
Tapa na cara que vira sangue,
albergue que vira moita
e choro que vira arroto.

para os invencivelmente
descontentes
deixo
minhas lástimas
para
um
mundo
de verdadeiras
mentiras ensaiadas.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

...

Após uma noite endiabradamente estelar, Dona Jurema, no alto de seu contrangimento angular, filosofa com seus botões abertos:
-Pois é, a vida também é feita de fodas acidentais.
E retomou a ginástica orgástica ensaiando o próximo orgasmo invencivelmente
orgástico.