sexta-feira, 21 de outubro de 2011

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Niágara

Minha alma foi engolida por uma legião de sem nomes.
Injúrias me levaram ao lugar comum do nada, petrificada e julgada.
Prataria de piratas sem dentes, amordaçada
e engolida pelas ondas de um mar revolto.
Não tenho a nada. Tenho a mim.
De mim eu vim para mim eu voltarei.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

[...]

'Hoje está um dia de nada. Hoje é zero hora. Exis­te por acaso um número que não é nada? que é menos que zero? que começa no que nunca começou porque sempre era? e era antes de sempre? Ligo-me a esta ausência vital e rejuvenesço-me todo, ao mesmo tem­po contido e total. Redondo sem início e sem fim, eu sou o ponto antes do zero e do ponto final. Do zero ao infinito vou caminhando sem parar. Mas ao mesmo tempo tudo é tão fugaz. Eu sempre fui e imediatamente não era mais. O dia corre lá fora à toa e há abismos de silêncio em mim. A sombra de minha alma é o cor­po. O corpo é a sombra de minha alma. Este livro é a sombra de mim. Peço vênia para passar. Eu me sinto culpado quando não vos obedeço. Sou feliz na hora errada. Infeliz quando todos dançam. Me disseram que os aleijados se rejubilam assim como me disseram que os cegos se alegram. É que os infelizes se compensam.Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro. Tempo para mim significa a desagre­gação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse roubando a este fruto toda a sua pol­pa. O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tem­po em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo tam­bém o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me mul­tiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a idéia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. Noite e dia são contrários porque são o tempo e o tempo não se divide. De agora em dian­te o tempo vai ser sempre atual. Hoje é hoje. Espan­to-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado. E amanhã eu vou ter de novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje. O paroxismo da mais fina e extrema nota de violino insistente. Mas há o hábito e o hábito anestesia. O aguilhão de abelha do dia florescente de hoje. Graças a Deus, tenho o que comer. O pão nosso de cada dia.'

'Um sopro de vida - Clarice Lispector'

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Gracejos poéticos - Segunda publicaçao das minhas poesias



Olhos líricos

Tentei grossamente a meu próprio modo
reproduzir seus olhos líricos e traços virginais.
Mas tudo o que consegui
foi adentrar o mundo dos marginais.
Quis porque quis cobrar direitos autorais
destes olhos tao virginais,
mas só consegui entrar pro hall dos passionais.

O céu é o mar

Os tempos eram tão difíceis e rasgantes que tudo
o que me restava era sucumbir às forças naturais
que me acordavam todos os dias com chiados estranhos.
Chamaram-me na chincha, meu nome
fora convocado para o lado de dentro da espiral.
Não havendo saídas eu sucumbi ao desconhecido,
atirando me de peito a um mundo de novos signos,
de gritos e suspiros,
de danças e cirandas.
Para minha surpresa e eterna gratidão fui
recebida de braços abertos, como bebê
que necessita de braços outros para se
aconchegar.
Tiro certeiro.
Caí certamente no olho do mundo,
onde tudo acontece. Entrei em contato
com todas as forças ancestrais que
originam as mais banais manifestações
do óbvio.
Entrei em contato com a grande mãe
que cansada de aconselhar seu filhos,
recolhe-se a seu prometido desamor.
Mas nem tudo são espinhos.
Mergulhei de cabeça no mar
da verdade suprema, Iemanjá
me acariciou a testa, me recebeu
com festa. Meus ouvidos
tornaram-se surdos a barulhos corriqueiros.
Adquiri novos sentidos,
adentrei um mundo para poucos,
um mundo para espíritos corajosos.
Aprendi o manejo das ondas,
entendi a ordem do mar e
seu cosmos ao contrário.
Conheci os segredos das dimensões
pra dentro, onde nenhum capitão ousa
se aventurar.
Entendi, enfim, que o céu
na verdade é o mar.

No tempo das vacas anárquicas

Houve um tempo
dentro desta vastidão temporal
de rodamoinhos e incertezas
em que tudo foi diferente do que hoje é.
É difícil imaginar um tempo em que tudo
estava em seu ensaio matutino, estrela da manhã.
Este fora também o tempo das cobras mansas,
dos leões nadadores de aquário
e das vacas anárquicas.
O homem era mero detalhe, mero
espectador de uma realidade lúdica e translúcida,
apenas consciência em estado latente.
Eu, você e ele. Todos nós rascunhos
de vida, consciência divina.
Palavras não havia, alfabeto também não.
Espectros se sobressaíam por uma
realidade crua e nua, porém
isenta de carne, sangue ou maldade.
As vacas eram mais que sagradas,
as vacas eram
sábias filósofas.
Dotadas de incrível conhecimento
pré e pós universal, davam
verdadeiras palestras cósmicas sobre o real
sentido da vida e de algo próximo
à paz e ao amor.
Organizadas em sindicatos,eram
as verdadeiras provedoras de tudo
o que há por vir..
e veio!
Fomos todos rascunhos arquitetônicos
de um plano extrafísico,
gêmeos dividindo um mesmo ventre de espera.
Tudo o que eu sabia ,podia e queria
era observar o começo de tudo.
Do a ao z, do zero ao infinito,
do nascimento à morte,
estive presente em todas as faces do cubo,
junto às vacas
anárquicas e seu rebanho de humanidade,
nos nutrindo de pão, leite e sabedoria 
vendo o mundo se construir.

Por você

Por você
eu compraria um apartamento no inferno
e passaria férias no paraíso.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

[...]

"Isto não é um lamento, é um grito de ave de rapina. Irisada e intranqüila. O beijo no rosto morto.
Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos.
De repente as coisas não precisam mais fazer sen­tido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim. O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência. De certo tudo deve estar sendo o que é."

(Clarice Lispector - Um sopro de vida)

Quando a poesia acontece

O dia entardece,
minha alma enobrece
e a poesia acontece.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Tempos de esbórnia

Eram tempos divertidos de esbórnia.
Os dias eram cor de laranja
e as nuvens choravam borboletas.
Meus poemas ainda moravam
em gavetas
e eu colecionava violetas.
Eu sequer tinha nome,
eu sequer tinha sombra.
Eram tempos divertidos de esbórnia,
as horas não tinham pressa
e eu sonhava à beça.

Catavento

Catavento mandou dizer
que
em segredo
ele ainda gosta de você.

Em segredo

Sinto saudades de tudo aquilo que me prometera
e que jamais cumprira.
Saudades de uma bebida açucarada,
talvez com gosto de cereja com anis
que eu jamais derramara.
Mel e doçura desperdiçados ao acaso.
Te quis e te precisei mais do que meu próprio ar.
Você foi meu ar, minha vazão e minha escravidão.
Foi meu suor, meu trabalho árduo,
minha lavoura dos sonhos.
Você foi meu tremido de inverno,
minha planta seca de outono
e meu broto de primavera.
Você foi tudo e mais um pouco.
Meu homem e desbravador.
Leito e roncador.
Você foi meu amor,
minha dor e minha flor.

Amor

Baby, eu sei que incomoda,
mas o amor está fora de moda.

Ensaio das Letras - Primeira publicação


Primeira publicação das minhas poesias em mãos! A 5 reais, você pode comprar diretamente comigo!

Se você entendesse

Tudo seria mais fácil
se você entendesse
que o amor não nasce em vão
e que o leite não existe sem o chão.

Imperatriz do trono azul

Diante de meu trono azul,
vejo meu imperador que nao chegou.
Sou imperatriz vazia,
enamorados em desarmonia.
Usei a espada da justiça,
apontei para cima
e convoquei os sete céus.
Você não veio
e eu ainda sou
a imperatriz do trono azul.

Animal agonizante

Animal agonizante
rasteja sua pele perebenta
pelo chão de marmore morto.
Rasteja buscando pelo o que jamais encontrará,
rasteja esbravejando o que jamais se exorcizará.
E assim vive ao deus dará
o meu animal agonizante

Gracejos ao luar

O sol está escondido
A lua sai pra brincar
As bruxas estão a voar
e nós aqui a gracejar
ao luar.

Agosto, o mês do desgosto

Agosto me traz um desgosto
que nem gosto de amora
é capaz de expulsar esse encosto.

Lavo meu rosto,
pois estou indisposto.

Agosto é mesmo o mês do desgosto.

Elefantes brancos

Elefantes brancos
insistem em aparecer todas as noites
em meus sonhos de menina doida.
Não conseguindo os expulsar,
permito que permaneçam.
Não são elefantes santos, mas são elefantes mancos
que não permitem ninguém  mais aqui entrar.

Uma passagem pra marte

Eu queria viver de arte
Tudo que consegui foi uma passagem pra marte.
Amanda me ofereceu uma bela proposta,
mas eu acabei fazendo bosta.

Meu Paul que não é McCartney

Meu Paul não é um lord
de vez em quando ele me morde
Meu Paul não é inglês
mas me conquistou em um mês.
Meu Paul nao toca guitarra
mas vive com muita garra
Todos os dias de manhã
pinta seus olhos enressacados
com o lápis de minha irmã.

sábado, 1 de outubro de 2011

Confetes na sala de estar

Confetes coloridos enfeitaram minha sala de estar
Como num episódio de realismo fantástico
estrelas cadentes atravessaram meu corredor.
Cachoeiras caíram no sofá e a prata da lua resolveu descer
para enfeitar meu colar.
O impossível tornou-se possível por apenas alguns
segundos.
O céu esteve na terra, a terra no céu e o inferno eu nao
sei mais. As forças tornaram-se unas.
Os ângulos se completaram
e eu virei sol, calor, aconchego e esfera.

Apenas Alice

Leopardos dançantes
me convidaram para o banquete dos loucos.
Lagartas de fogo me ensinaram os segredos
do malabarismo.
Formas fálicas, a arte do tantra.
Budas levitantes me mostraram o caminho do meio.
Eu apenas dancei meu ballet dos desconsolados.
Escorreguei em mentiras, vislumbrei
o impossível, busquei artifícios.
Adentrei becos censurados, conheci
o gato de botas. Fui pequena para poder ser grande.
O dia entardeceu e eu continuo sendo apenas..
Alice.

Abigail me traiu

O leão rugiu,
meu castelo ruiu.
O muro caiu,
e meu coração fugiu.
Tudo isso
porque
Abigail me traiu.

Meu erro preferido

De todos os gostos que posso ter
eu ainda desejo apenas o seu.
As suas cores, o seu conjunto de odores,
suas faltas, tédios e remédios.
Saudade das virtudes que nada valem,
do pão amanhecido, e das tardes em desperdício.
De todos os amores, de todas as possibilidade
infinitas desse universo que não conspira,
eu ainda insisto no erro mais que agradável, você,
suas calças velhas e sua viola desafinada.

o brilho que não me pertence

deu meio dia
não vejo as estrelas, mas elas lá permanecem
a vênus continua em peixes
a lua é cheia
e eu ainda sou eu.
a pressa me consome, viver de gravidade
ainda é pouco.
quero voar, quero a velocidade da luz,
e também o brilho que não me pertence.
e na minha ânsia desenfreada
por ser o que não sou acabo por imitar os astros.