Houve um tempo
dentro desta vastidão temporal
de rodamoinhos e incertezas
em que tudo foi diferente do que hoje é.
É difícil imaginar um tempo em que tudo
estava em seu ensaio matutino, estrela da manhã.
Este fora também o tempo das cobras mansas,
dos leões nadadores de aquário
e das vacas anárquicas.
O homem era mero detalhe, mero
espectador de uma realidade lúdica e translúcida,
apenas consciência em estado latente.
Eu, você e ele. Todos nós rascunhos
de vida, consciência divina.
Palavras não havia, alfabeto também não.
Espectros se sobressaíam por uma
realidade crua e nua, porém
isenta de carne, sangue ou maldade.
As vacas eram mais que sagradas,
as vacas eram
sábias filósofas.
Dotadas de incrível conhecimento
pré e pós universal, davam
verdadeiras palestras cósmicas sobre o real
sentido da vida e de algo próximo
à paz e ao amor.
Organizadas em sindicatos,eram
as verdadeiras provedoras de tudo
o que há por vir..
e veio!
Fomos todos rascunhos arquitetônicos
de um plano extrafísico,
gêmeos dividindo um mesmo ventre de espera.
Tudo o que eu sabia ,podia e queria
era observar o começo de tudo.
Do a ao z, do zero ao infinito,
do nascimento à morte,
estive presente em todas as faces do cubo,
junto às vacas
anárquicas e seu rebanho de humanidade,
nos nutrindo de pão, leite e sabedoria
vendo o mundo se construir.
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